quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

2 jan 2013

- Bom dia, César.
- Bom dia, doutor. Nada mudou.
- Como assim?
- Já são mais de três anos, consultas semanais e eu sinto que isso não está evoluindo... Não vai dar em nada.
- César, a terapia é um processo em constante evolução, que sempre dá em alguma coisa. Meu acompanhamento é importante pra você.
- Ah, é?
- Claro que é!
- E por quê, doutor?
- Porque eu posso ajudá-lo com meu ponto de vista. São anos de estudo de teorias consagradas na prática. Meu papel é prestar atenção em tudo que você me conta.
- E pra quê?
- Pra conhecê-lo.
- Você acha que me conhece...
- Talvez eu já o conheça melhor do que você conhece a si mesmo, Celso.
- Celso? Sou César.
- Isso, César. Desculpe.
- Três anos e você não acerta nem o meu nome.
- Já pedi desculpas. De qualquer forma, esteja certo de uma coisa, meu jovem: a psicanálise salva vidas.
- Minha vida não está em risco.
- Como não? Lembra-se daquela vez que você fez mergulho com cilindro e me contou sobre aquela percepção de fragilidade da vida? Que você estava acompanhando a rapidez com que o ar do cilindro se esgotava e pensou em permanecer submerso até o último segundo?
- Eu nunca mergulhei com cilindro, doutor.
- Verdade?
- Verdade.
- Deve ter sido o Celso, então. Engraçado.
- Quem é Celso, doutor?
- Ele se parece com você, me confundi. Só que ele mergulha.
- Vocês, psicólogos... Tenho amigos que reclamam que seus terapeutas não falam nada. Que pagam por hora e, como os sujeitos ficam lá calados, eles nunca sabem se o especialista está prestando atenção.
- Sei. É uma outra corrente. Meu papel é mais ativo, minha metodologia parte dessa troca com o paciente.
- É... Pelo menos, eu sei.
- Isso. Você sabe.
- Sei que você está me escutando há três anos e pouco. Eles ficam na dúvida. Eu não. Eu SEI que você me escuta, mas nunca me ouviu.
- Seu tempo acabou.
- Semana que vem?
- Isso. Terça, às nove.
- Muito obrigado, doutor.
- De nada, Celso.

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